Muito mais que uma cor, muito mais que uma flor, Violeta é o nome da minha vó. Minha vó Violeta acaba de completar suas 90 primaveras. Imagino o que é viver noventa anos... Provavelmente nos primeiros 30 anos os conflitos aparecem, nos outros 30 anos tentamos resolver e nos próximos 30 acho que nem nos importamos mais com isso. Sei disso porque minha vó me fala sempre sobre "deixar passar", "deixar pra lá", "fingir que não viu, que não ouviu", em ajudar as pessoas, em agradar as pessoas, em ser bom. Sempre me fala da importância da família, de cuidar das pessoas que amamos, de tomar chá de boldo se der problema do estômago. Sempre me diz que "saco vazio não para em pé", que "mentira tem perna curta" e que "respeito vem em primeiro lugar".
Não esqueço jamais das longas conversas que tínhamos quando eu ia "posar na vó". Dávamos risadas aos montes enquanto apreciávamos o vestido da Hebe na tv. Ela me dizia para tomar banho e por pijama para jantarmos. Sempre caprichava, conseguia com muito pouco fazer muito. Jantávamos e íamos para o sofá. Eu nem bem sentava e ela já vinha com um cobertor pra mim e com a agulha de crochê para ela. Não demorava muito e lá vinha ela com um chazinho de melissa que eu adorava, colhido no quintal. Às vezes eu dormia no sofá e minha vó me acordava com muito jeito pra ir pra cama. As cobertas de cama sempre cheiravam à guardadas porque (ela não me dizia, mas eu sempre percebi) ela deixava guardadas as melhores cobertas e só as usava quando eu ia dormir lá. Sempre deixava mais cobertores comigo do que com ela e fazia questão de que eu dormisse na cama mais macia.
Quando era de manhã ela levantava pé por pé para não me acordar, eu sempre acordava mas nunca deixei que ela visse porque isso a deixava muito chateada. Eu ficava de olhos fechados e muitas vezes a espiava. Sempre gostei de observar minha vó. Ela arrumava a cama antes de qualquer coisa e sentava na penteadeira para pentear os cabelos com um pente antigo e velhinho, um pente verde de plástico. Esperava ela sair do quarto e deixava passar algum tempo pra que ela não achasse que foi ela que me acordou.
Logo que ela ouvia movimento meu, indo ao banheiro para escovar os dentes, ela fazia a mágica: eu saia do banheiro e ia na cozinha dar bom dia a ela e lá estava, sempre, o chá de melissa do quintal quentinho, o leite quentinho, pão com margarina quentinho e bolinho de banana frito na hora. Como uma mágica. Era perfeito. E os mimos se estendiam por todo o tempo que eu estivesse por lá. Quando não tinha o que oferecer, colhia amoras no quintal e me levava num potinho. Tudo isso ao som da voz inconfundível da Ana Maria Braga apresentando o programa Note e Anote na Record. Era um programa que passava a manhã todinha com receitas e muito artesanato. Minha vó simplesmente adorava e eu sempre assistia com ela e pra ela. Assisti pra ela porque ela tinha que se ausentar de tempo em tempo pra cuidar das panelas pro almoço. Me deixava com um caderninho e uma caneta pra que eu anotasse enquanto ela estava na cozinha. Então, ela voltava e me pedia que contasse a ela o que ela havia perdido. Assim passávamos as manhãs. Logo o almoço ficava pronto e lá vinha ela com uma comida deliciosa.
Às vezes me pergunto se todas as "vós" são assim. Como tenho saudades da comida dela, do cheiro das cobertas dela, dos móveis antigos, dos mimos sempre muito simples mas tão grandiosos pra mim. Posei na vó até quando foi possível, durante a faculdade ainda arrumei tempo pra isso, era especial demais. O amor de vó é um amor impressionante, um amor que faz nos sentirmos os heróis de nós mesmos, faz acreditarmos que somos especiais e únicos. Lá os problemas diminuíam, não existiam cobranças e nem repreensões, lá eu estava protegida.
Lembranças de infância são tão puras... lembro que minha maior preocupação era decorar o questionário de história para ir bem na prova, a bendita história que me atormentou a vida toda. E depois disso não tem como não comentar: Imagine se nossa maior preocupação hoje fosse decorar um questionário de história! Aaahh, como a infância é boa, como ela fica melhor ainda com uma vó!
Hoje, o que eu mais queria era a leveza que eu sentia quando estava com ela na casa dela. Queria muito ainda poder dizer: Tchau todo mundo! Vou posar na vó...
Pri.,que lindo!!
ResponderExcluirQue saudades das minhas férias na casa da minha avó!! Como somos privilegiadas de ainda tê-las nas nossas vidas vivas, com todas as dificuldades mas vivas!!
Adorei!!!
Beijocas
Luise
Obrigada Lu!!! Vó é uma delícia mesmo!! E fico contente de ter vc como seguidora do meu blog!! ;-) bjaoooo
Excluir