quinta-feira, 2 de maio de 2013

Faz-me cócegas

Os anos vão passando e além de mais velhos vamos ficando mais experientes, mais "cascas grossa", mais espertos, mais maduros... Pelo menos era o que eu achava. Dia vem e dia vai eu vejo que seria muito mais fácil se as coisas realmente acontecessem assim. Os anos vão passando e além de mais velhos vamos ficando mais desiludidos, mais desconfiados, mais descrentes, mais intolerantes e mais complicados. Perdemos a ingenuidade da juventude e ganhamos mau humor. Mais vividos sim! Isso nós vamos ficando mesmo, mas, vamos ficando mais ranzinzas, mais donos da verdade, mais donos de si, mais impiedosos. Quando nos damos conta, toda essa adolecência tardia que nos ataca nos faz sofrer como adolescentes, nos faz agir como bobalhões, nos faz enxergar que os anos passam e o nosso íntimo continua um bebê sedento por cuidado, por carinho, atenção, compreenção, compaixão, por amor, um amor para sempre...
Os anos continuam passando e além de mais velhos vamos ficando mais carentes de bondade, de verdade, de amizade, de paz, de um alguém pra te segurar a mão quando tiver medo. O tempo passa e o ser humano não fica mais forte, mais intransponível, mais seguro. Ele fica mais armado, mais disfarçado, mais convincente. No fundo, ele fica mais ciente da vida, percebe o que realmente importa, deseja simplesmente estar a salvo das tristezas do mundo, deseja ter um colo certo, deseja ter seu porto seguro.
Os anos continuam passando e além de mais velhos vamos ficando mais desnudos, vamos nos fechando por fora e nos abrindo por dentro, vamos ficando com nossas almas mais a mostra, vamos ficando mais a flor da pele, vamos ficando "no vivo". As informações, as palavras e os acontecimentos são mais claros, são mais diretos, são mais intensos. O desejo de ser feliz é o único que passa a existir dentro de nós, mesmo que pra isso seja necessário mudar valores e pontos de vista, que seja necessário mudar ou abandonar o emprego, que seja necessário mudar de casa, que seja necessário mudar os pensamentos, as abordagens. O desejo de ser feliz (e só isso) vem cada vez mais forte e o desejo de fazer isso acontecer faz almas rudes perderem a dureza, corações duros amolecerem, cabeças duras ficarem flexíveis, mentes agressivas ficarem dóceis. Faz picuinhas vivarem piadas, e desavenças virarem aprendizado, faz ofenças serem desconsideradas, faz besteiras serem relevadas.
Os anos vão passando e além de mais velhos vamos ficando mais ansiosos, vamos percebendo que a vida vai passando e perder tempo com coisas banais é o maior erro do mundo. Nossas almas sentem frio, sentem saudades, sentem medo... Mas se se é feliz, nossas almas sentem calor, sentem-se plenas, sentem segurança, sentem cócegas!
Cócegas na alma é que o porto seguro nos faz sentir! Um misto de riso, risada, brincadeira, leveza, tranquilidade, satisfação, felicidade, resplendor, euforia, contentamento e a certeza de que a vida vale a pena.
Os anos vão passando e além de mais velhos vamos ficando mais pressionados por nós mesmos, vamos sendo mais cobrados por nós mesmos e vamos entendendo cada vez mais que a decisão de ser feliz cabe a cada um. Vamos tendo mais certeza que a complexidade da vida deve ser desfeita em nossas cabeças e o tato para lidar com as dificuldades vem da nossa vontade de fazer as coisas darem certo. Vamos nos dando conta que tudo depende de nós, que não é fácil mas não é impossível, que ser feliz é mais gostoso. Vamos perdendo tanta coisa, tanta oportunidade e tantas pessoas que percebemos que nada é eterno. Percebemos que eterno é o desejo do ser humano de ser feliz, e, se isso é eterno é porque é a única coisa que podemos estar certos: a vida é curta demais para brigarmos por status, por posições, por orgulho, pra ganharmos a discussão, pra nos mantermos irredutíveis.
Os anos vão passando e além de mais velhos vamos nos deparando com a realidade da vida: ou você é feliz agora ou você pode se arrepender eternamente. Vamos relevando, baixando a cabeça, deixando passar, retrucamos menos, abraçamos mais, perdoamos mais, valorizamos mais a companhia das pessoas que amamos.
Os anos vão passando e além de mais velhos vamos ficando mais arrependidos de não termos voltado atrás quando fomos injustos, de não termos agradecido um belo gesto, de não termos relevado erros, de não termos deixado nosso orgulho de lado evitando dor. Ficamos mais arrependidos de não termos dado mais risadas ao invés de termos dado respostas rudes, de não termos abraçado ao invés de dar de dedo, de não termos aproveitado os momentos que nunca teremos de volta. Vamos nos arrependendo de termos dito poucos "eu te amo" e poucos "me desculpa"...
Os anos vão passando e além de mais velha eu vou ficando mais chata, mais convencida de que eu amo ser amada, mais convencida de que amar e ser amada é ser feliz, mais lamuriosa, exigindo em pensamentos: -Vem logo, meu porto seguro...
 
 
 
(Se você tem seu porto seguro cuide dele(a) com cuidado e dedicação. Não fique cego(a) diante do tesouro que tem em mãos. Viva essa segurança deliciosa que só um porto seguro pode proporcionar, e isso é para sempre...
Se você não tem um porto seguro, continue desnudando sua alma, desfaça-se das futilidades, abandone o superficial, agarre-se as alegrias e aos sentimentos verdadeiros, permita-se viver momentos profundos e permita-se sentir cócegas na alma...)

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