terça-feira, 23 de abril de 2013

Moscovo Mascavo

Sozinhévski moscovita. Delicadévski moscovita. Angustiévski moscovita.
Dostoiévski bem escrita. Loucura solta entre cúpulas douradas e coloridas, sangue de várias cores numa Praça Vermelha. Inquietante Mockba. Quanto do teu mistério e do teu glamour eu posso suportar? Meus conflitos em cirílico, minhas dores em Tchaikovsky. Minha paz e minha guerra em Tolstoi. Meu Ballet Bolshoi. Minha insegurança, como dói!
Desespero em Maiakovski. Depreiévski Moscou. Engula-me Moscou. Quanto de sua postura inabalável eu posso suportar? Quanto dessa ameaça russa você ainda vai manifestar?
Independenteiévski Mockba, tua doçura não chega a ser doce, açúcar mascavo. Moscovo Mascavo.
Quanto do seu frio você vai usar? Quanto ainda pretende ousar?
Marcanteiéski Moscou. Eu, moscovita diante de teu impiedoso frio e teu imponente mistério.
Quanto da tua grandiosidade eu ainda posso vivenciar?
Moscovita em Moscou... Fria e calculista Moscou. Teu império, teu fascínio. Em Moscou meu temor sem domínio. Assustadoraiévski Moscou. Impressionadévski moscovita. Quanto de mim você ainda poderia suportar? Quanto ainda poderíamos nos tolerar?
Incompreensiviévski Mockba. Moscovita incompreensiviévski.
Você Tchaikovsky, eu Dostoievski.
Você aí, eu aqui, nossa paz e nossa guerra...


(Moscovo=Moscou. Mockba=Moscou. Moscovita=mineral frágil)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Nas ruas de Kiev

Kiev - Ucrânia, 6 de Abril de 2013.
Dia do meu aniversário e não por coincidência eu estava na Ucrânia. Meu sobrenome, minhas origens, busca pelas raízes, curiosidade me levaram pras ruas de Kiev. E foi impactante no início. Boa parte da cidade mostra claramente resquícios do tempo de URSS. Ucrânia não faz parte da União Européia também. Enfim, depois de conhecer muitas capitais européias percebe-se que Kiev destoa de todas elas. No entanto Kiev não é menos bonita e nem menos atraente, ela é chocante. Não sei de onde vem tanta religiosidade e tanta devoção. A Igreja Ortodoxa realmente impera. Cúpulas douradas espalhadas por tudo. É em Kiev o Monastério de Pecherska Lavra (o Vaticano da Igreja Ortodoxa) que reúne várias igrejas e várias catedrais suntuosas.
É incrível como toda a devoção espalhada por lá vai tomando conta e é tão espontâneo que inevitavelmente passa-se horas rezando, orando, agradecendo, acendendo velas, meditando, passa-se muito tempo em silêncio, em comunicação com Deus, em reflexão, em paz. Não poderia ter escolhido melhor: passei meu aniversário em oração. Não discuto religião, o importante, acredito, é a fé, o cuidado em agradecer além de pedir, importante é a oração que vem do coração. E como tenho a agradecer!! Agradeço a oportunidade de conhecer a Ucrânia, país da vózinha do meu pai. A pedido dele eu beijei o chão de Kiev como numa demostração de amor pela terra de sua origem, agradeço ter conseguido fazer isso por ele. Agradeço a família que tenho, os amigos sempre presente, meu trabalho que sempre me traz desafios e satisfações, as pessoas especiais que passam por mim, os momentos inesquecíveis. Agradeço minha saúde e de todos que me cercam. Agradeço tudo  que tenho recebido e toda proteção que me acompanha sempre. Agradeço a Deus pelo meu anjo da guarda, que se desdobra e vira mil pra dar conta das minhas idéias intempestuosas. Agradeço a força que tenho e a vontade de seguir. Agradeço a Deus todo sentimento bom que chega até mim vinda das pessoas que me gostam. Agradeço a Deus meus 32 anos. Agradeço, o agrado ao coração que Deus me fez, afinal, todo mundo sente dor em algum momento da vida e isso é inevitável. É inevitável também amar profundamente quando se está de coração aberto. E Deus tem me presentiado com lindos dias apaixonados e cheios de carinho.

Cracóvia Querida

Eu já não sabia pra que lado olhar, Cracóvia era toda mimosinha, toda lindinha, toda polaca. Polacas cozinheiras de mão cheia, trajando roupas coloridas, cozinhando seus pierogis. Linda praça com torre, com igreja, com mesinhas, com polacos indo e vindo... E Cracóvia estava lá, coberta de neve, toda escondidinha, discretinha, calada.
O silêncio de Cracóvia Querida era inquietante. Quem sabe sejam os anos de silêncio pelos ecos do terrível sofrimento que aconteceu nas suas proximidades. Cracóvia fica a 65km do Campo de Concentração de Auschwitz, o maior cemitério humano. Um lugar construído para fazer sofrer e que cumpriu seu papel, infelizmente. Os horrores são intermináveis, a lista é longa, nunca ouvi tanta barbaridade em tão pouco tempo na visita ao Campo de Concentração (quisera eu achar que isso é sensacionalismo, antes fosse... é a verdade nua e crua). Nesse lugar morreram mais de 1 milhão de pessoas, muitas foram torturadas, separadas de sua família, passaram fome, sede, frio, trabalharam até a exaustão, foram cobaias em experimentos, foram tratadas como vermes...
O Campo é próximo a um rio e diz-se que através da água o som do choro, gritos, torturas e suplícios eram ouvidos em toda redondeza. Cracóvia vive caladinha...
Sim, depois de ouvir toda a história e de ver resquícios dos crimes... Só se pode calar.
Mas antes de calar é impossivel não balbuciar algo como: "Meu Deus..." e ter seus olhos seus d´água.
Querida Cracóvia triste...
 
(Não só polacos sofreram e morreram em Auschwitz, no entanto, esse complexo-Auschwitz foi instalado em território polaco, impondo impotência e lamentação constante a esse povo.) 
 

Berlim 40 graus

-Berlim! Berlim!! - ela gritou.
Foi assim que a capital alemã foi escolhida para marcar definitivamente o início de uma história sem fim. E quem poderia imaginar que com um muro enorme daqueles as coisas poderiam dar certo? Sim, o muro era enorme! Dividia em 2, partes diferentes, o que hoje é 1 com muito gosto. Derrubamos o muro. (o muro viria abaixo sem que percebêssemos)
Berlim é uma.
Já imaginou um polvo em Berlim?? Eu era um polvo cheio de braços quando te vi. Eu tinha batimentos cardíacos no corpo todo quando te vi. Eu tinha riso incontrolável quando te vi. Eu tremi da ponta do nariz ao dedão do pé passando pelo coração quando te toquei. Tudo que sonhei estava ali... Ai Berlim Berlim...
E depois de beijos e mais beijos até a Deusa Irene e seus 11 cavalos tiveram arrepios!!
Berlim é inesquecível. (Você é inesquecível)
 
 
-Cadê o muro?? - ele perguntou.
-Não existe mais! - ela exclamou.
-Onde você estava todo esse tempo? - ele perguntou.
-Esperando por você... - ela sussurrou.
 
 
E enquanto nevava lá fora, em Berlim fazia 40 graus...
 
 
 
(Deusa Irene representa a quadriga sobre o portão de Brandemburgo)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Pessoa insana em Viena

O que faz uma pessoa estar em Viena no fim do mês de março, numa congelante segunda-feira, andando pelas ruas ao redor da ópera, enfrentando fila interminável?
As pessoas costumam ser estranhas. Muito estranhas. Pessoas choram quando achamos desnecessário, riem alto demais, gritam "eu te amo" em praça pública, fazem sexo em becos, agridem com palavras, matam com pancadas, abandonam suas casas, mudam de emprego, deixam seu país. Pessoas costumam ter motivos próprios, motivos que nunca vamos entender.
Numa segunda-feira eu andava a esmo por Viena, sem pretensão alguma, e acabei sem querer numa fila que ainda não sabia onde me levaria. Sim, sim!! Pessoas também agem sem motivo! Tempo de sobra, férias, falta de compromisso com o tempo, com o lugar, com expectativas. Logo percebi do que se tratava, era fila para um espetáculo, uma apresentação de ópera na grande Ópera de Viena. Lá estava eu, quase imóvel naquela interminável  fila, acompanhada de inúmeras de pessoas ansiosas pelo mesmo barulho: o barulho perfeito.
Não demorou muito para eu perceber a figura estranha-engraçada-intrigante que estava na fila. Um homem de uns 50 anos, cabelos lisos e grisalhos, na altura do ombro. Vestia roupa social, porém percebia-se que não se tratava de um homem da alta sociedade mas um homem vestido apropriadamente apenas. Ele era inquieto. Estava desacompanhado, como eu. Mexia-se ininterruptamente. Virava-se pra lá e pra cá como se buscasse por algo. Falava alemão em alto e bom som, sozinho. Falava e falava pelos cotovelos, parecia reclamar, comentar, indignar-se. E mexia-se, virava-se, gesticulava. Logo a fila moveu-se e em poucos instantes estávamos acomodados em lugares estratégicos, lugares reservados para pessoas que assistem à ópera em pé. Como não poderia ser diferente, o homem-pérola posicionou-se exatamente na minha frente. Mexia-se, torcia-se, parecia incomodado, parecia curioso com relação às outras pessoas.
As luzes apagaram e o homem de atitude estranha mudou um pouco seu comportamento. Na fila parecia um louco varrido, no salão parecia um louco comportado. A Ópera começou. Ele calou-se. Nao ouvi mais seu alemão gritado e nem seus resmungos, pra um louco ele estava se saindo muito bem. Violinos e vozes ecoavam naquela ópera de acústica perfeita, o homem virava-se, olhava nos rostos ao seu redor como se quisesse observar e sentir o que acontecia ao seu redor. A cada momento de entusiasmo dos artistas, o homem ficava mais inquieto e perturbado com tamanha demostração de arte, dom e beleza por parte dos cantores e dos músicos. Realmente, Viena acumula pessoas de todas as partes com diversos interesses, como qualquer parte do mundo. Não podia ser diferente, na adorável Viena encontrei uma pessoa insana: eu mesma, por julgar louco um apreciador da ópera, por julgar louco um homem de baixa renda que junta seus trocados para assistir a uma ópera em plena segunda-feira, por julgar alguém que faz isso sob muita neve e mostra verdadeiro interesse pela arte, por demonstrar preconceito julgando louco quem deveria ser o mais são num mundo de materialismo e futilidade.

(Reencarnação de Wagner? Ou de Nietzsche????)