Eu cresci acreditando nas pessoas e em tudo que via. Eu dizia: “Mas pai, estava escrito!” E meu pai dizia: “O papel aceita tudo”. Eu dizia: “Mas ele falou pai”. Meu pai dizia: “As pessoas não falam a verdade sempre”. E a vida foi ficando incerta. O que era real neste mundo? Eu já não sabia. No começo foi difícil, hoje está terrivelmente difícil. Está difícil entender que ninguém é de ninguém, que as palavras são jogadas ao vento, que os atos não são mais vigiados. Essa confusão toda se chama vida. Essa vida é a nossa realidade. Essa realidade não é nada fácil. Eu tenho medo por não entender da arte de viver, por saber que as coisas são como são, que além de não conseguirmos mudá-las temos que conseguir captar bem sua essência para entendê-las. Que isso cansa e às vezes desanima. Que tudo está em constante mudança e que estamos cada vez mais longe de entender. Ao mesmo tempo, aí está o sentido da vida: saber viver e conseguir se encontrar no meio dos apocalipses diários. Ser feliz com o que se tem, buscar o que se quer, não se iludir, ter sensibilidade para escolher o caminho e não se desesperar nas dificuldades. Então, você tem que ser suficiente para você. Você deve ser sua melhor companhia. Você deve ser seu fã. Um novo desafio: Localizar-se no mundo, conhecer-se e preencher-se de si mesmo. Esta última julgo ser a mais difícil. Nossos espaços são ocupados freqüentemente pelos outros, por projeções que fazemos, por necessidades que criamos. E eu me olho e me vejo como um tear, um crochê, um tricô, um bordado. Fico entrelaçada, confundida, misturada comigo e com os outros que preenchem meus vazios. Se eu espero e não vem, o buraco aparece, e torna-se o foco de tudo. O tricô começa a se desmanchar. Vejo que se não tenho o que espero, o meu eu se desfaz junto com todo o resto. Por quê? Porque me misturei demais. Porque não consigo mais distiguir entre eu e os outros, entre eu e você. Porque tenho jogado nos outros minhas expectativas, minhas vontades, meus sonhos, minha vida. A vida que é tudo que temos, eu tenho entregue aos outros, na esperança que eles me façam feliz. Isso acontece porque é mais fácil culpar os outros por nossa infelicidade e nosso fracasso. Porque se não fomos felizes, isso já é triste demais para somar ao fato de sermos os culpados disso.
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