Vejo que as pessoas são pessoas comuns. Comuns no sentido de não serem diferentes da gente. Temos a mania de achar que todo mundo é feliz, que não têm inseguranças, nem problemas de família, não têm seus dias de cara inchada, de indecisão, que não têm tantos problemas e conflitos como a gente. Engana-se quem se sente mal por se sentir tão sozinho no ninho e tão pouco compreendido.
Quanto mais o tempo passa mais descobrimos como somos complexos e como todo mundo também é. E constatamos todos os dias as diferenças, todas elas, que as pessoas têm com relação a gente. Parece complicado, e realmente é. Somos a única pessoa que nos entende e ás vezes nos aceita. Nossa própria companhia é a mais confortável justamente por não precisarmos nos esforçar para agradar e nem para parecer com o outro.
No entanto a solidão não é boa pra sempre. Apesar de ser difícil nos relacionar, buscamos uma forma de fazer isso dar certo. E continuamos buscando mesmo nos decepcionando com frequência. Acho que eu não sou a única que se desencanta e sente dor. Acho que não sou a única a tentar exaustivamente quando se gosta. Não sou a única a sonhar com a companhia ideal e com as coisas dando certo. Isso tudo parece tão óbvio mas não é. Parecemos um peixe fora d'água tentando nos adequar sem pensar que cada um está na mesma situação. Somos todos peixes fora d'água tentando se encaixar num mundo que achamos existir. Mas não, isso não vai acontecer.
E sentimos dor por sentir que as coisas não dão certo pra gente. Nos sentimos complexos demais, mas complexo é a maneira como ninguém é igual a ninguém. É difícil pra todo mundo... Tente estender a mão a qualquer pessoa que seja, e veja ela se abrir, e de alguma forma se sentir agradecida por ter alguém a apoiá-la. Todo mundo se sente só, incompreendido e ás vezes perdido. Uma equação sem solução, um mundo onde todo mundo tenta se adequar sem saber a que exatamente.
Então encontramos uma companhia, e se nos apaixonamos, tentamos nos adequar a ela. Ao mesmo tempo, sem saber se está funcionando, esperamos que o outro também faça isso, e não dá certo.
Por que?
Porque a individualidade é intransponível. Ela não se afeta nem mesmo no amor. Quando é invadida, logo se revolta e pede pra sair. Não suportamos ter nosso EU invadido. Não suportamos a carga de se adequar. Então, vejo que queremos algo perfeitamente impossível. Nunca vamos ter uma harmonia perfeita. Nunca vamos nos sentir completamente compreendidos porque nunca vamos compreender perfeitamente.
E a solidão? Então ela volta, trazendo alívio e desespero. A falta que aquela incompreensão nos faz é coisa indescritível. Repensamos nossas vidas e vemos que ou aceitamos a incompreensão ou ficaremos sozinhos. Ser sozinho parece ruim. Ser sozinho é não trocar incompreensões, e por mais bizarro que isso seja, é essa troca que nos mantém vitais. É apenas quando não nos sentimos sozinhos que a vida faz sentido pleno. É apenas quando nos unimos a uma outra pessoa comum que acreditamos ser possível a felicidade que tanto queremos viver.
Há quem diga que gosta da solidão, mas todo mundo gosta... Mas ninguém gosta o tempo todo... Ninguém gosta para sempre... Só quem admite isso tolera as diferenças, abraça as desavenças e aceita não ser compreendido o tempo todo. Só quem percebe como é melhor a vida ao lado de uma pessoa comum que amamos, pode compreender que mais importante que as diferenças é saber lidar com elas. Exige paciência para compreender, para ambos os lados, e se você não se esmera o suficiente não pode reclamar da solidão. Afinal,você está buscando a solidão. E é claro que você acaba por alcançá-la, facilmente, inesperadamente, dolorosamente com a falsa impressão de alívio. Lá está você sozinho, e em pouco tempo estará buscando ser compreendido novamente. Complexo não? Até é, até cansarmos de buscar a perfeição nas pessoas comuns tão imperfeitas como nós próprios. Quando cansamos, nos aceitamos e aceitamos os outros. Nos sentimos acolhidos mesmo de forma imperfeita, mas da melhor forma possível. Impossível é querer transformar o mundo, impossível é fazer dar certo quando não damos o braço a torcer: não somos especiais, somos comuns.